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Por: redação Brazilian Will
09/05/2025, 06:00

Como Surgiram os Nomes dos Estados Brasileiros?

1. Introdução: Um País Contado Pelos Nomes

Você já parou para pensar por que seu estado se chama assim? O Brasil é um país de diversidade não apenas em sua geografia e cultura, mas também nos nomes que moldam o mapa. Cada estado carrega uma história embutida em seu nome — muitas vezes esquecida, ignorada ou romantizada.

Alguns nomes vieram de línguas indígenas e preservam traços da história anterior à chegada dos portugueses. Outros homenageiam santos católicos ou fazem referência a acidentes geográficos, rios e sertões. Há ainda nomes ligados a figuras históricas e até à política do Brasil colonial e republicano.

Entender a origem dos nomes dos estados brasileiros é, portanto, mais do que uma curiosidade: é uma forma de enxergar, nos detalhes, como o país se formou, se dividiu e se reconheceu ao longo dos séculos. Neste artigo, vamos descobrir o que significam esses nomes, de onde vieram e o que eles revelam sobre nossa identidade.

2. As Origens Indígenas: Quando o Brasil Falava Tupi

Antes da chegada dos colonizadores, o Brasil já era nomeado por seus primeiros habitantes. Palavras indígenas, especialmente do tronco tupi-guarani, foram incorporadas à geografia oficial, e muitas permanecem até hoje como nomes de estados. Elas designavam rios, regiões, animais e até qualidades naturais do território.

Estados como Paraná (“semelhante ao mar”), Amapá (“ilha que se move” ou “terra que acaba”), Roraima (“serra verde”), Tocantins (“bico de tucano”) e Ceará (“canto da jandaia” ou “rio dos caranguejos”) são exemplos marcantes dessa herança linguística. Esses nomes não são apenas sons exóticos: são registros da forma como os povos originários percebiam e se relacionavam com a natureza.

Segundo o professor Eduardo de Almeida Navarro, da Universidade de São Paulo (USP), especialista em línguas indígenas e autor do Dicionário de Tupi Antigo, a presença da toponímia tupi no Brasil é “tão forte que é impossível atravessar um mapa sem tropeçar em nomes indígenas”. Ele destaca que essas palavras trazem um olhar poético e geográfico ao mesmo tempo, traduzindo o mundo em imagens concretas e vivas.

Mais do que nomes, essas palavras são pedaços de uma história que foi silenciada, mas ainda resiste nos contornos do nosso mapa.

3. Influência Religiosa: Fé no Nome, Fé na Terra

Com a colonização portuguesa, a fé cristã passou a marcar profundamente o território brasileiro — inclusive nos nomes escolhidos para designar estados. Muitos deles foram batizados em homenagem a santos católicos, a eventos religiosos ou a conceitos ligados à fé cristã.

O Espírito Santo foi assim nomeado em 1535 por Vasco Fernandes Coutinho, que chegou à região no dia de Pentecostes. Já Santa Catarina homenageia a mártir cristã Catarina de Alexandria, enquanto São Paulo remete ao apóstolo Paulo, pois a vila original foi fundada em 25 de janeiro, data dedicada a sua conversão.

O caso do Maranhão é mais complexo: embora algumas versões apontem para influência africana (do rio Moranhão, no Golfo da Guiné), a versão mais aceita é a de que o nome teria origem na expressão “Maria do Anhão” (uma forma antiga e regional de devoção à Virgem Maria), que com o tempo teria se contraído. Outras fontes ainda associam o nome a uma corruptela de palavras indígenas.

Esses nomes religiosos foram formas não só de cristianizar o território, mas também de marcar presença simbólica da fé europeia em terras que os colonizadores desejavam dominar espiritual e politicamente.

4. Geografia, Rios e Acidentes Naturais

Outra forte influência na escolha dos nomes dos estados brasileiros é a geografia física. Rios, serras, planaltos e outras características naturais frequentemente serviram de referência para nomear territórios, em especial durante a expansão territorial e a criação de novas unidades administrativas.

O Rio Grande do Norte e o Rio Grande do Sul foram assim chamados por causa da existência de grandes rios navegáveis em suas regiões — o Potengi e o Jacuí, respectivamente — e pelo uso do termo "rio grande" para designar cursos d'água volumosos. Já Mato Grosso do Sul é uma subdivisão do antigo estado de Mato Grosso, cujo nome original faz alusão às densas matas do planalto central brasileiro.

O Acre recebeu esse nome a partir do rio homônimo, que por sua vez pode derivar da palavra indígena “Aquiry” ou “Aquiri”. Durante muito tempo, o termo foi grafado de formas variadas, como “Acrea” ou “Acreh”, até ser padronizado. A região ganhou notoriedade no contexto da Revolução Acreana e foi anexada definitivamente ao Brasil no início do século XX.

Já Rondônia tem origem indireta na geografia: inicialmente chamada de Território do Guaporé (em referência ao rio Guaporé), passou a se chamar Rondônia em 1956, em homenagem ao marechal Cândido Rondon — cuja atuação na exploração e integração da região foi marcada por expedições fluviais e contato com povos indígenas.

Esses nomes refletem o esforço de descrever e reconhecer o território a partir de seus próprios elementos naturais — uma forma de orientação, pertencimento e registro histórico.

5. Referências Históricas e Homenagens Políticas

Alguns estados brasileiros receberam nomes ligados diretamente a figuras históricas, povos originários ou marcos geográficos importantes no processo de colonização. Esses nomes são verdadeiros testemunhos da trajetória política, social e cultural do Brasil.

Rondônia, por exemplo, é um dos poucos estados que homenageiam explicitamente uma pessoa. O nome faz referência ao Marechal Cândido Rondon, militar e sertanista que liderou expedições pelo interior do Brasil no início do século XX e defendeu o contato pacífico com povos indígenas. A mudança de nome do antigo Território do Guaporé para Rondônia ocorreu em 1956, como reconhecimento por sua atuação.

Goiás deriva do nome do povo indígena Goyaz (ou guaiás), que habitava a região central do Brasil antes da chegada dos bandeirantes. A designação foi mantida mesmo após o processo de colonização, como forma de marcar a origem pré-colonial do território.

Bahia, por sua vez, tem origem geográfica, mas fortemente relacionada à história do Brasil colonial. O nome vem da baía de Todos-os-Santos, local onde os primeiros colonizadores portugueses desembarcaram em 1501. A baía foi batizada por causa da data da chegada — 1º de novembro, Dia de Todos os Santos no calendário católico.

Esses nomes ajudam a contar não só onde estamos, mas também de onde viemos — com quais povos, símbolos e eventos nossa história se entrelaça.

6. Tabela: Estado por Estado com Origem e Significado

Estado Significado do Nome Origem
AcreDo rio Acre (possivelmente de "Aquiry")Indígena (tupi ou pano)
AlagoasMúltiplas lagoas na regiãoGeográfica (português)
Amapá"Ilha que se move" ou "terra que acaba"Indígena (tupi)
AmazonasRio Amazonas (referência às guerreiras míticas)Clássica (grego via espanhol)
BahiaBaía de Todos-os-SantosGeográfica (português)
Ceará"Canto da jandaia" ou "rio dos caranguejos"Indígena (tupi)
Distrito FederalSede do governo nacionalPolítica (português)
Espírito SantoReferência ao Espírito Santo (Pentecostes)Religiosa (cristã)
GoiásNome do povo indígena GoyazIndígena (etnônimo)
MaranhãoPossível referência à Virgem Maria ou rio africanoReligiosa ou geográfica
Mato Grosso“Mata espessa” ou “mato fechado”Descritiva (português)
Mato Grosso do SulRegião sul de Mato GrossoDescritiva (português)
Minas GeraisConjunto de minas de ouro e pedras preciosasGeoeconômica (português)
Pará"Mar" ou "rio caudaloso" (referente ao rio Pará)Indígena (tupi)
Paraíba"Braço de mar" ou “rio ruim para navegar”Indígena (tupi)
Paraná"Semelhante ao mar" ou "grande rio" (rio Paraná)Indígena (tupi)
Pernambuco"Buraco no mar" (referência ao litoral recortado)Indígena (tupi)
Piauí"Rio dos peixes" ou "rio das piabas"Indígena (tupi)
Rio de JaneiroBaía de Guanabara, confundida com rioErro geográfico (português)
Rio Grande do NorteRio volumoso ao norteGeográfica (português)
Rio Grande do SulRio volumoso ao sulGeográfica (português)
RondôniaHomenagem a Marechal RondonHistórica (pessoa)
Roraima"Serra verde" ou "monte de picos" (rora-ima)Indígena (caribe ou tupi)
Santa CatarinaSanta Catarina de AlexandriaReligiosa (cristã)
São PauloApóstolo Paulo (fundação em 25/01)Religiosa (cristã)
Sergipe"Rio dos siris" ou "rio dos crustáceos"Indígena (tupi)
Tocantins"Bico de tucano" (referência a símbolo indígena)Indígena (tupi)

7. Curiosidades e Controvérsias

Nem todos os nomes de estados brasileiros têm origem consensual. Em alguns casos, a etimologia é disputada por diferentes hipóteses — algumas baseadas em documentos históricos, outras em tradições orais ou interpretações linguísticas divergentes.

Um exemplo é o Maranhão. Para alguns estudiosos, o nome seria uma corruptela de Maria do Anhão, forma antiga de devoção à Virgem Maria, reforçando a tradição católica na toponímia do Brasil colonial. Outros acreditam que o nome tenha vindo do rio Moranhão, no Golfo da Guiné, na África — possibilidade ligada à presença portuguesa na região africana antes da colonização brasileira. Há ainda quem sugira origens indígenas ou até ligadas à fonética do francês, já que a região foi ocupada por franceses no século XVII.

Outro caso interessante é o de Roraima. A versão mais comum aponta que o nome vem do tupi-guarani: rora (verde) + ima (serra), formando “serra verde”. No entanto, alguns linguistas defendem que o termo tenha origem caribenha, pertencente a um grupo indígena que habitava a região antes do contato com os tupis. A diversidade de línguas e influências na Amazônia dificulta uma definição definitiva.

Essas controvérsias não tornam os nomes menos legítimos — pelo contrário, revelam a complexidade do nosso passado, onde diferentes culturas se entrecruzaram e deixaram marcas até mesmo na forma como nomeamos o mundo ao nosso redor.

8. Conclusão: O Brasil Que Fala Pelos Nomes

Os nomes dos estados brasileiros não são apenas convenções geográficas: são marcas profundas de um país que foi sendo construído por vozes distintas — indígenas, colonizadoras, religiosas, políticas e naturais. Em cada nome, há uma narrativa silenciosa sobre quem viveu ali, quem passou, quem nomeou e quem permaneceu.

Alguns nomes exaltam a natureza, outros homenageiam santos ou guerreiros. Alguns são registros de resistência indígena; outros, símbolos do poder colonial. Todos, no entanto, falam — mesmo quando não ouvimos.

Reconhecer a origem desses nomes é um passo para entender melhor o Brasil que somos: complexo, múltiplo, mestiço em sua essência. Ao olhar para o mapa, não vemos apenas limites estaduais — vemos capítulos de uma história que ainda está sendo contada.

9. Referências

  1. Aventuras na História. 2022. Conheça a origem etimológica dos 26 estados brasileiros .
  2. Guia dos Curiosos. 2021. A origem dos nomes dos Estados brasileiros .
  3. Correio Braziliense. 2024. Referência indígena e geográfica: a origem dos nomes dos estados brasileiros .
  4. Navarro, Eduardo de Almeida. 2013. A Toponímia Indígena no Brasil (USP) .


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