5 Mulheres que Fizeram História no Brasil
Em 30 de abril, celebra-se o Dia Nacional da Mulher — uma data que convida à reflexão sobre as contribuições femininas para o desenvolvimento do país. A história do Brasil é marcada por inúmeras mulheres que, com coragem e determinação, desafiaram as normas de sua época e contribuíram significativamente para a construção da sociedade. Este artigo destaca cinco dessas figuras notáveis, cujas ações deixaram um legado duradouro.
1. Maria Quitéria de Jesus (1792–1853)
Maria Quitéria de Jesus nasceu em 27 de julho de 1792, na Fazenda Serra da Agulha, no distrito de São José das Itapororocas, na Bahia. Criada em um ambiente rural, desde jovem demonstrou habilidades incomuns para as mulheres de sua época, como montar a cavalo, caçar e manejar armas de fogo. Essas competências seriam cruciais em sua trajetória futura.
Em 1822, durante a Guerra de Independência do Brasil, Maria Quitéria alistou-se no Batalhão dos Voluntários do Príncipe, disfarçada de homem e usando o nome de "Soldado Medeiros", pois seu pai era contra sua participação no conflito. Sua bravura e competência em combate logo chamaram a atenção de seus superiores. Mesmo após a descoberta de sua identidade feminina, foi autorizada a continuar no batalhão, tornando-se a primeira mulher a integrar oficialmente uma unidade militar no Brasil.
Por sua atuação destacada, foi promovida a cadete e, posteriormente, a alferes. Recebeu a condecoração da Imperial Ordem do Cruzeiro do Sul das mãos de Dom Pedro I. Após a guerra, retornou à vida civil, casando-se com Gabriel Pereira de Brito e tendo uma filha. Faleceu em 21 de agosto de 1853, em Salvador, sendo lembrada como uma das heroínas da independência brasileira.
2. Nísia Floresta (1810–1885)
Nísia Floresta Brasileira Augusta, nascida Dionísia Gonçalves Pinto em 12 de outubro de 1810, em Papari (atual Nísia Floresta), no Rio Grande do Norte, foi uma educadora, escritora e ativista pioneira na defesa dos direitos das mulheres, dos indígenas e dos escravizados. Em 1838, fundou o Colégio Augusto, no Rio de Janeiro, uma das primeiras instituições a oferecer educação científica para meninas no Brasil.
O Colégio Augusto oferecia às alunas disciplinas como gramática, línguas (português, francês e italiano), ciências naturais e sociais, matemática, música e dança, rompendo com o modelo tradicional de ensino feminino limitado às tarefas domésticas. Essa abordagem inovadora enfrentou resistência da sociedade da época, mas estabeleceu as bases para a educação feminina no país.
Além de educadora, Nísia foi uma prolífica escritora. Em 1832, publicou "Direitos das Mulheres e Injustiça dos Homens", obra que incendiou o debate sobre a emancipação feminina. Ao longo de sua vida, produziu 14 livros, defendendo com paixão os direitos das mulheres, dos povos indígenas e dos escravizados, tornando-se uma figura central nas lutas abolicionista e republicana.
Nísia Floresta faleceu em 24 de abril de 1885, em Rouen, França. Seu legado como educadora e defensora dos direitos das mulheres permanece vivo, sendo lembrada como uma das pioneiras do feminismo no Brasil.
3. Bertha Lutz (1894–1976)
Bertha Maria Júlia Lutz nasceu em 2 de agosto de 1894, em São Paulo. Filha do cientista Adolfo Lutz e da enfermeira britânica Amy Fowler, cresceu em um ambiente que valorizava a ciência e o conhecimento. Formou-se em Biologia pela Universidade de Paris (Sorbonne) e, ao retornar ao Brasil, ingressou no Museu Nacional do Rio de Janeiro, tornando-se uma das primeiras mulheres a integrar o serviço público federal.
Em 1919, fundou a Liga para a Emancipação Intelectual da Mulher, que posteriormente deu origem à Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (FBPF) em 1922. A FBPF tornou-se a principal organização de defesa dos direitos das mulheres no Brasil, lutando por causas como o direito ao voto, igualdade salarial e acesso ao mercado de trabalho.
Bertha teve papel crucial na conquista do direito ao voto feminino no Brasil, instituído em 1932 pelo Decreto nº 21.076. Em 1934, foi eleita suplente de deputada federal pelo Partido Autonomista do Distrito Federal e assumiu o cargo em 1936, tornando-se a segunda mulher a ocupar uma cadeira na Câmara dos Deputados.
Durante seu mandato, defendeu a criação do Estatuto da Mulher, propondo mudanças na legislação para garantir igualdade de direitos entre homens e mulheres. Também lutou por direitos trabalhistas, como licença-maternidade e igualdade salarial.
Em 1945, integrou a delegação brasileira na Conferência de São Francisco, que resultou na criação da Organização das Nações Unidas (ONU). Lá, batalhou pela inclusão da igualdade de gênero na Carta da ONU, sendo uma das quatro mulheres a assinar o documento.
Bertha Lutz faleceu em 16 de setembro de 1976, no Rio de Janeiro. Seu legado como cientista, política e ativista feminista permanece vivo, sendo lembrada como uma das principais figuras na luta pelos direitos das mulheres no Brasil.
4. Antonieta de Barros (1901–1952)
Antonieta de Barros nasceu em 11 de julho de 1901, em Florianópolis, Santa Catarina. Filha de Catarina Waltrich, uma ex-escravizada que trabalhava como lavadeira, Antonieta enfrentou desde cedo as adversidades impostas pela sociedade da época. Apesar das dificuldades, sua mãe incentivou a educação, permitindo que Antonieta e seus irmãos fossem alfabetizados ainda na infância. A convivência com estudantes hospedados na pensão mantida por sua mãe também contribuiu para seu interesse pelos estudos.
Aos 17 anos, Antonieta ingressou na Escola Normal Catarinense, formando-se professora em 1921. No ano seguinte, fundou o Curso Particular Antonieta de Barros, voltado para a alfabetização de adultos carentes. Acreditava que a educação era a chave para a emancipação social e dedicou sua vida ao magistério, lecionando em diversas instituições de ensino de Florianópolis.
Além da carreira docente, Antonieta destacou-se como jornalista e escritora. Escreveu mais de mil artigos para jornais catarinenses, abordando temas como educação, política, condição feminina e preconceito racial. Em 1937, publicou o livro "Farrapos de Ideias", uma coletânea de seus textos, sob o pseudônimo de Maria da Ilha.
Em 1934, Antonieta foi eleita deputada estadual por Santa Catarina, tornando-se a primeira mulher negra a assumir um mandato popular no Brasil. Durante seu mandato, defendeu a valorização do magistério, a ampliação do acesso à educação e a criação do Dia do Professor, celebrado em 15 de outubro. Após o Estado Novo, retornou à política em 1947 como suplente, reassumindo o cargo de deputada estadual.
Antonieta de Barros faleceu em 28 de março de 1952, aos 50 anos, devido a complicações de saúde. Em reconhecimento ao seu legado, em 2023, seu nome foi inscrito no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria.
5. Esperança Garcia (c. 1751 – ?)
Esperança Garcia nasceu por volta de 1751 na Fazenda Algodões, localizada na região que hoje corresponde ao município de Nazaré do Piauí. A fazenda era administrada por padres jesuítas, e acredita-se que foi nesse ambiente que Esperança aprendeu a ler e escrever, uma habilidade rara entre pessoas escravizadas na época. Aos nove anos, após a expulsão dos jesuítas pelo Marquês de Pombal, foi transferida para a casa do capitão Antônio Vieira de Couto, onde passou a trabalhar como cozinheira.
Em 6 de setembro de 1770, Esperança redigiu uma carta endereçada ao governador da Capitania de São José do Piauí, Gonçalo Pereira Botelho de Castro. No documento, denunciava os maus-tratos que ela e seu filho sofriam, incluindo agressões físicas que resultaram em sangramentos. Relatava também a separação de seu marido e a impossibilidade de batizar sua filha, solicitando providências para retornar à Fazenda Algodões e viver com sua família. A carta é considerada por especialistas como o primeiro habeas corpus coletivo do Brasil, evidenciando um ato de resistência e consciência jurídica por parte de uma mulher negra escravizada.
O manuscrito permaneceu desconhecido até 1979, quando foi encontrado no Arquivo Público do Piauí pelo historiador Luiz Mott. Desde então, Esperança Garcia tornou-se símbolo de resistência e luta por direitos. Em 2017, a OAB do Piauí reconheceu-a como a primeira advogada do estado, e em 2022, o Conselho Federal da OAB conferiu-lhe o título de primeira advogada do Brasil. Sua história é celebrada no Dia Estadual da Consciência Negra no Piauí, em 6 de setembro, data da redação de sua carta.
Referências
- Maria Quitéria – Brasil Escola
- Nísia Floresta – Educação Integral
- Bertha Lutz – Senado Notícias
- Antonieta de Barros – Memória Política de Santa Catarina
- Esperança Garcia – OAB Piauí
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