Por que sentimos saudade no domingo?
O domingo costuma carregar um silêncio diferente. Para muitas pessoas, ele vem acompanhado de uma nostalgia leve — quase como uma saudade que não se sabe bem de quê.
Esse sentimento não é exclusivo, nem universal. Mas é comum o suficiente para ser reconhecido em diferentes culturas, especialmente no fim da tarde ou início da noite. Algumas pessoas descrevem como uma leve melancolia, outras sentem ansiedade, e há quem apenas perceba um certo vazio difícil de explicar.
Não se trata de algo anormal, muito menos de um problema. Na verdade, essa sensação tem explicações plausíveis na psicologia, na neurociência e também na forma como estruturamos nossas rotinas sociais.
O que é esse sentimento?
Sentir-se estranho, nostálgico ou inquieto no domingo não é uma doença, nem uma síndrome clínica. Trata-se de uma resposta emocional comum, reconhecida pela psicologia como parte da forma como o ser humano lida com transições — especialmente entre descanso e obrigação.
Nos Estados Unidos, o termo "Sunday Scaries" ficou popular para descrever esse incômodo leve que surge no fim do domingo, quando as pessoas começam a pensar na segunda-feira. Embora o nome seja informal, a sensação é real.
A American Psychological Association (APA) reconhece que muitas pessoas sentem uma forma de ansiedade antecipatória aos domingos, especialmente no fim do dia, quando a mente começa a se preparar para os compromissos da semana.
É nesse momento que surgem pensamentos como: "Amanhã já é segunda", "Ainda tenho muita coisa para resolver", ou "Nem consegui descansar direito". Esses pensamentos, mesmo sutis, têm impacto no nosso humor.
Fatores psicológicos envolvidos
Alguns dos sentimentos associados ao domingo têm explicações ligadas ao funcionamento natural da mente. Um dos principais fatores é a chamada ansiedade antecipatória, que ocorre quando o cérebro começa a se preparar para eventos futuros — mesmo antes de eles acontecerem.
No caso do domingo, essa antecipação envolve o retorno às responsabilidades, prazos e compromissos da semana. Isso ativa o sistema de alerta do corpo, elevando o estado de vigilância e diminuindo a sensação de relaxamento.
Outro fator importante é a redução de estímulos. Durante a semana, estamos cercados por interações, tarefas e ruídos constantes. No domingo, especialmente à tarde, esse ritmo desacelera. O ambiente mais calmo pode favorecer a introspecção e trazer à tona emoções que foram empurradas para o fundo durante os dias mais agitados.
Segundo o psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi, autor do livro Flow, períodos de ócio sem direção clara podem deixar espaço para emoções reprimidas emergirem — como tristeza, angústia ou nostalgia. Em outras palavras, quando a mente não está ocupada, ela tende a revisitar aquilo que ficou mal resolvido.
Memória afetiva e associações emocionais
Os domingos costumam carregar um peso emocional próprio porque, para muitas pessoas, estão ligados a lembranças afetivas marcantes. Infância, almoços em família, programas de televisão específicos, visitas de parentes ou até o simples cheiro da comida no ar — tudo isso pode ter ficado registrado como parte da “rotina emocional” do domingo.
Com o tempo, a rotina muda, mas as marcas deixadas por essas vivências permanecem na memória. É por isso que, mesmo sem um motivo concreto, muitas pessoas sentem uma espécie de saudade — não exatamente de algo, mas de um tempo, de uma sensação ou de um lugar emocional.
Segundo o neurocientista Antonio Damasio, o cérebro é capaz de ligar emoções a contextos específicos, como dias da semana, ambientes ou até horários. Essas conexões fazem com que certas emoções retornem automaticamente, mesmo quando a situação atual é completamente diferente da vivida no passado.
Em outras palavras, o domingo pode funcionar como um “gatilho emocional”, ativando sentimentos que fazem parte da nossa história.
Aspectos biológicos e hormonais
Além dos fatores emocionais e psicológicos, o corpo também participa desse processo. A neurociência mostra que, ao fim do dia, é comum ocorrer uma redução nos níveis de dopamina e serotonina — neurotransmissores relacionados ao bem-estar, à motivação e ao humor.
Essa queda tende a ser mais perceptível em dias com menos atividade física ou social, como costuma ser o caso dos domingos mais tranquilos. O resultado é uma leve oscilação no estado emocional, que pode gerar sensação de desânimo, cansaço emocional ou mesmo uma tristeza sem causa aparente.
De acordo com a Harvard Health Publishing, oscilações nos níveis desses neurotransmissores podem afetar o bem-estar emocional mesmo em pessoas saudáveis, sem histórico de transtornos mentais. Trata-se de uma reação natural do organismo diante do ritmo do dia.
Por isso, não é incomum que a combinação entre cansaço acumulado, menos estímulos externos e mudanças químicas no cérebro resulte nessa sensação típica de final de domingo.
Conclusão: é normal, e pode ser cuidado
Sentir uma leve melancolia ou saudade no domingo não significa que há algo errado com você. Essa resposta emocional é comum e faz parte do funcionamento natural da mente e do corpo diante das transições — especialmente da passagem entre descanso e rotina.
Entender o que está por trás desse sentimento ajuda a lidar com ele com mais leveza. Algumas atitudes simples, como manter pequenas atividades prazerosas no fim do dia, evitar excesso de telas, fazer uma caminhada leve ou até ouvir uma música tranquila, podem ajudar a suavizar a experiência.
Mais importante que tentar “anular” a sensação é aprender a reconhecê-la sem julgamento. Em vez de lutar contra o domingo, talvez o segredo esteja em acolhê-lo como ele é: um dia de pausa, de silêncio — e, às vezes, de reencontro com emoções que a semana esconde.
Nem toda saudade precisa de explicação. Às vezes, ela é apenas um lembrete silencioso daquilo que nos importa.
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