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Por: redação Brazilian Will
23/05/2025, 06:00

Você é Hedonista? Filosofia, Mente e Prazer

1. Introdução: Você vive em busca de prazer?

Você já pensou por que escolhe o que escolhe? Por que adia uma tarefa chata, come um doce depois do almoço ou passa mais tempo nas redes sociais do que gostaria?

Muitas dessas decisões têm algo em comum: a busca por prazer — ou a tentativa de evitar algum desconforto. Pode parecer apenas instinto, mas essa forma de agir tem nome e história: hedonismo.

Apesar de muitas vezes ser associado a exageros e luxos, o hedonismo é uma linha de pensamento antiga, que influenciou tanto a filosofia quanto a psicologia. Hoje, estudos da neurociência mostram que o nosso cérebro também tende a funcionar nessa lógica: ele busca recompensas, evita o que causa dor e repete o que traz alívio ou prazer.

Neste artigo, vamos ver como essa ideia aparece em diferentes áreas. Na filosofia, com nomes como Epicuro e Arístipo. Na psicologia, com autores como Freud, Jeremy Bentham e Viktor Frankl. E na neurociência, com pesquisas de Nora Volkow, Wolfram Schultz, Morten Kringelbach e Daniel Kahneman. No final, você poderá refletir: será que eu também sou, de algum modo, hedonista?

2. Hedonismo na Filosofia: o prazer sempre esteve em pauta

2.1. Arístipo de Cirene (séc. IV a.C.)

Arístipo de Cirene foi um dos primeiros filósofos a defender abertamente que o prazer é o bem supremo da vida. Ele viveu no século IV antes de Cristo e foi discípulo direto de Sócrates, embora tenha seguido um caminho bastante diferente do mestre.

Para Arístipo, a felicidade consistia em buscar ativamente aquilo que proporciona prazer e em evitar tudo que causa dor. Mas, ao contrário do que muitos imaginam, ele não defendia a entrega cega aos desejos. Ao contrário: acreditava que o prazer deve ser desfrutado com inteligência e domínio sobre si mesmo.

Uma frase atribuída a ele resume bem sua visão: “Eu possuo os prazeres, não sou possuído por eles.” Em outras palavras, ele ensinava que o ser humano deve aproveitar os prazeres da vida, mas sem se tornar escravo deles.

Arístipo deu origem à chamada escola cirenaica, que valorizava os prazeres físicos e imediatos — como comida, conforto e prazer sensorial —, considerando-os como os mais intensos e verdadeiros. Para ele, o que conta é o prazer vivido no presente, e não algum ideal distante ou futuro hipotético.

Essas ideias foram registradas principalmente por Diógenes Laércio na obra Vidas e Doutrinas dos Filósofos Ilustres, escrita no século III d.C., que é uma das principais fontes sobre os filósofos da Antiguidade.

2.2. Epicuro (341–270 a.C.)

Epicuro foi um dos principais filósofos da Grécia Antiga a falar sobre o prazer — mas não da forma como muitos imaginam. Em vez de buscar prazeres intensos ou luxuosos, ele defendia uma vida de simplicidade, amizade e reflexão. Para ele, o prazer verdadeiro vinha da ausência de dor e da paz interior.

Por volta de 300 a.C., em sua Carta a Meneceu, Epicuro escreveu que "o prazer é o princípio e o fim da vida feliz", mas advertia que nem todos os prazeres valem a pena. Ele propunha que a felicidade depende da ataraxia (tranquilidade da alma) e da aponia (ausência de dor física), estados alcançados com moderação e sabedoria.

Na mesma carta, ele apresentou uma famosa divisão dos desejos humanos:

  • Desejos naturais e necessários – como comida simples, água, abrigo e amizade;
  • Desejos naturais mas não necessários – como refeições sofisticadas ou conforto extra;
  • Desejos nem naturais nem necessários – como fama, poder ou riquezas.

Seu conselho era claro: devemos satisfazer apenas os desejos naturais e necessários, ser prudentes com os demais e evitar aqueles que trazem ansiedade e frustração. Ele afirmava que “é melhor viver com simplicidade e estar em paz do que viver em abundância com inquietação” (Carta a Meneceu, c. 300 a.C.).

Essas ideias também aparecem nas Máximas Principais, uma coletânea de aforismos organizada por seus seguidores, preservada por Diógenes Laércio por volta de 230 d.C. Nelas, Epicuro insiste que o prazer duradouro vem de uma vida equilibrada, e não de exageros. Para ele, a felicidade era possível com pouco, desde que se tivesse liberdade, reflexão e bons amigos.

2.3. Bentham e Mill (século XIX)

Nos séculos XVIII e XIX, o hedonismo ganhou uma nova forma nas ideias de dois pensadores britânicos: Jeremy Bentham e John Stuart Mill. Ambos desenvolveram o utilitarismo, uma teoria ética que afirma que a melhor ação é aquela que produz o maior grau de felicidade para o maior número de pessoas.

Jeremy Bentham (1748–1832) propôs, em sua obra An Introduction to the Principles of Morals and Legislation (1789), que a base da moral deve ser o princípio da utilidade — ou seja, a capacidade de uma ação de gerar prazer ou evitar dor. Segundo ele, “a natureza colocou a humanidade sob o domínio de dois mestres soberanos: o prazer e a dor”.

Bentham chegou a sugerir que seria possível calcular o valor moral de uma ação medindo a intensidade, duração e extensão dos prazeres e dores que ela causaria. Essa tentativa de transformar o prazer em uma medida objetiva de valor ético marcou uma virada no pensamento ocidental, aproximando filosofia, política e economia.

Mais tarde, John Stuart Mill (1806–1873), em seu livro Utilitarianism (1861), concordou com a ideia de que o prazer é a base da moral, mas fez uma distinção fundamental: para ele, nem todos os prazeres são iguais. Mill argumentava que os prazeres do intelecto, da imaginação e do sentimento moral eram superiores aos prazeres puramente físicos ou sensoriais.

Em suas palavras: “É melhor ser um ser humano insatisfeito do que um porco satisfeito”. Para Mill, uma vida verdadeiramente valiosa exige mais do que conforto — exige crescimento intelectual, liberdade e consciência ética.

Com isso, o hedonismo utilitarista passou a incluir não apenas a quantidade de prazer gerado, mas também a qualidade

3. Hedonismo na Psicologia: o que nos faz agir?

3.1. Freud e o princípio do prazer

No início do século XX, o médico austríaco Sigmund Freud (1856–1939) trouxe uma das contribuições mais marcantes para o entendimento do comportamento humano: o princípio do prazer. Segundo ele, nosso aparelho psíquico é estruturado de forma a buscar a redução da tensão e o aumento da satisfação.

Em sua obra Além do Princípio do Prazer, publicada em 1920, Freud afirmou que, desde o nascimento, o ser humano tende a evitar tudo o que provoca desprazer e a buscar aquilo que proporciona alívio, conforto ou prazer. Esse impulso aparece primeiro de forma automática e instintiva, mas vai sendo modulado ao longo do desenvolvimento pela experiência e pelas exigências do mundo externo.

Freud descreveu esse conflito como a tensão entre dois sistemas: o princípio do prazer, que nos empurra para a gratificação imediata, e o princípio da realidade, que nos ensina a adiar esse prazer em nome da convivência social, da lógica e da sobrevivência.

Por exemplo, uma criança pequena grita ou chora quando sente fome — ela não sabe esperar. Mas à medida que cresce, ela aprende que precisa aguardar, negociar ou suportar pequenas frustrações. Isso é o princípio da realidade agindo.

Essa ideia de que boa parte do nosso comportamento é impulsionada por mecanismos inconscientes ligados à busca de prazer (ou à fuga do desprazer) foi uma base importante para o desenvolvimento posterior da psicanálise e também influenciou abordagens comportamentais e cognitivas.

3.2. Viktor Frankl: crítica à busca direta por prazer

Enquanto muitos pensadores falaram sobre o prazer como o motor da vida, o psiquiatra austríaco Viktor Frankl (1905–1997) seguiu por outro caminho. Sobrevivente de campos de concentração nazistas, ele desenvolveu a logoterapia, uma abordagem terapêutica centrada na busca por sentido. Para Frankl, o ser humano não é guiado principalmente pela busca de prazer ou de poder, mas pela necessidade de encontrar um propósito.

Em sua obra mais conhecida, Em Busca de Sentido, publicada pela primeira vez em 1946, Frankl relata suas experiências nos campos e apresenta a ideia de que a felicidade não pode ser buscada diretamente. Segundo ele, quanto mais uma pessoa persegue o prazer por si só, menos ela o alcança. A verdadeira realização acontece como efeito colateral de uma vida com sentido.

No livro, ele escreve: “A felicidade não pode ser perseguida; ela deve acontecer, e só acontece como efeito colateral da dedicação pessoal a um propósito maior que a própria pessoa.” Essa citação expressa o centro de sua crítica ao hedonismo direto: a ideia de que fazer do prazer o objetivo principal pode nos afastar da realização real.

Para Frankl, a vida ganha profundidade quando está ligada a valores, causas, responsabilidades ou vínculos autênticos. É isso que sustenta o indivíduo mesmo nas circunstâncias mais adversas — e não o conforto ou o prazer momentâneo. Essa visão contrasta com as filosofias hedonistas, mas dialoga com elas ao apontar que o prazer não deve ser rejeitado — apenas não deve ser tratado como o fim último da existência.

3.3. Hedonismo psicológico

O chamado hedonismo psicológico é uma teoria descritiva sobre o comportamento humano. Ela não diz o que as pessoas devem fazer, mas sim o que, supostamente, de fato fazem: agir sempre buscando prazer e evitando dor. A ideia aparece desde a filosofia antiga, mas ganhou força com os estudos de autores como Thomas Hobbes (1588–1679), Jeremy Bentham (1748–1832) e, mais tarde, em interpretações na psicologia comportamental.

De acordo com essa teoria, até mesmo ações aparentemente altruístas — como doar dinheiro ou ajudar alguém em apuros — seriam motivadas por algum tipo de benefício emocional ou psicológico. Ou seja, a pessoa ajudaria não por puro altruísmo, mas para sentir-se bem, aliviar a culpa ou evitar sofrimento próprio. Essa forma de explicar o comportamento está presente, por exemplo, em alguns escritos de Bentham no final do século XVIII e também no behaviorismo do século XX, como nas obras de B.F. Skinner (1904–1990).

Apesar de influente, o hedonismo psicológico enfrenta críticas importantes. Filósofos e psicólogos argumentam que nem toda ação pode ser reduzida à busca de prazer. Por exemplo, soldados que se sacrificam para salvar outros, ou pessoas que mantêm princípios mesmo sob sofrimento, parecem agir por valores que vão além da recompensa pessoal.

O filósofo britânico Joseph Butler (1692–1752) já apontava, no século XVIII, que o fato de uma ação causar prazer não significa que ela foi feita com esse objetivo. Em outras palavras: sentir-se bem por ter feito algo bom não prova que o motivo foi o prazer.

Hoje, a maioria dos psicólogos considera o hedonismo psicológico como uma teoria parcial — válida para muitos comportamentos, mas insuficiente para explicar toda a complexidade da mente humana.

4.1. Sistema de recompensa e dopamina

A neurociência tem mostrado que o cérebro humano possui um sistema de recompensa, responsável por motivar comportamentos ligados ao prazer. Esse sistema envolve áreas específicas, como o núcleo accumbens, a área tegmental ventral (VTA) e o córtex pré-frontal. Quando realizamos algo prazeroso — como comer, ouvir música ou receber carinho — essas regiões são ativadas.

Um dos neurotransmissores mais importantes nesse processo é a dopamina. Durante muito tempo, acreditou-se que ela era a substância do “prazer”. No entanto, estudos mais recentes indicam que sua principal função está ligada ao desejo ou à motivação — o chamado wanting, e não necessariamente ao liking (sentir prazer de fato).

Essa distinção foi descrita com clareza em um artigo publicado em 2015 por Wolfram Schultz, professor da Universidade de Cambridge, na revista Journal of Neuroscience. No estudo, Schultz mostrou que a dopamina aumenta quando há expectativa de recompensa, mesmo que o prazer real nem sempre seja tão intenso quanto o esperado. Ou seja, o cérebro é ativado não apenas quando sentimos prazer, mas principalmente quando esperamos

Esse mecanismo ajuda a explicar por que buscamos certas experiências repetidamente, mesmo quando elas já não nos dão o mesmo prazer de antes — como no caso do vício em jogos, redes sociais ou açúcar. O cérebro aprende a antecipar a recompensa e ativa o sistema de dopamina com base nessa previsão.

4.2. Nora Volkow e o circuito do vício

Nem sempre o que ativa o sistema de recompensa do cérebro traz prazer real. Em muitos casos, ele pode nos prender a comportamentos compulsivos que causam mais dano do que bem-estar. Essa foi uma das descobertas da pesquisadora Nora Volkow, diretora do Instituto Nacional sobre Abuso de Drogas dos Estados Unidos (NIDA), em um estudo publicado em 2003 sob o título The Addicted Human Brain.

No artigo, Volkow e sua equipe explicam que o excesso de dopamina, especialmente quando estimulado por drogas ou comportamentos viciantes, como o uso abusivo de comida, sexo ou redes sociais, está mais ligado à compulsão do que ao prazer em si. O cérebro passa a repetir certas ações não porque elas continuam prazerosas, mas porque se torna “programado” para persegui-las.

Segundo o estudo, o sistema de dopamina é ativado mesmo quando a recompensa já não é mais satisfatória. Isso ajuda a entender por que alguém continua buscando algo que já não causa prazer — como no caso de uma dependência química, em que a pessoa consome uma substância mesmo sem sentir mais os efeitos positivos iniciais.

Essas descobertas foram importantes para mudar a forma como o vício é compreendido. Em vez de tratar a dependência apenas como falta de força de vontade, Volkow propôs que o vício é um desequilíbrio neurobiológico no sistema de motivação e tomada de decisão, profundamente enraizado na química cerebral.

4.3. Kringelbach & Berridge – wanting vs. liking

Nem sempre queremos aquilo que realmente nos dá prazer — e nem tudo que desejamos continua sendo prazeroso depois de conquistado. Essa distinção entre wanting (desejo) e liking (prazer real) foi desenvolvida por dois importantes pesquisadores da neurociência do comportamento: Morten Kringelbach e Kent Berridge.

Em um artigo publicado em 2009 na revista científica Neuron, intitulado Pleasure Systems in the Brain, os autores mostram que os circuitos cerebrais responsáveis por desejar algo não são os mesmos que produzem o prazer de fato. Ou seja, o cérebro pode continuar motivado a buscar certas recompensas — como doces, compras ou curtidas em redes sociais — mesmo quando a experiência em si já não é mais prazerosa.

Essa diferença ajuda a entender por que consumimos além da necessidade, por que sentimos frustração mesmo após alcançar um objetivo, e por que muitas vezes seguimos buscando estímulos que já não satisfazem. O desejo pode continuar ativado por gatilhos externos, mesmo quando o prazer associado àquela atividade se esgota.

Kringelbach e Berridge argumentam que entender essa separação entre querer e gostar é fundamental para compreender fenômenos como vícios, compulsões e o cansaço emocional causado por excesso de estímulos — uma das marcas da vida moderna.

4.4. Kahneman e a adaptação hedônica

Por que algumas experiências nos empolgam no começo, mas depois perdem o impacto? Essa pergunta levou o psicólogo e Prêmio Nobel Daniel Kahneman a estudar como o prazer e a felicidade se comportam ao longo do tempo. Em seu livro Thinking, Fast and Slow, publicado em 2011, ele descreve um fenômeno conhecido como adaptação hedônica: a tendência do ser humano a se acostumar com situações prazerosas, reduzindo gradualmente a intensidade emocional que elas provocam.

Segundo Kahneman, esse processo faz com que experiências inicialmente intensas — como comprar algo desejado, viajar ou alcançar uma meta — tragam menos felicidade com o tempo. O prazer se dissipa, e o cérebro “volta ao normal”, o que explica por que estamos sempre querendo mais, mesmo depois de conquistas importantes.

Outro ponto importante que Kahneman destaca é a diferença entre dois tipos de felicidade: a experienciada (enquanto algo acontece) e a lembrada (como avaliamos aquilo depois). Uma situação pode ter sido desconfortável no momento, mas ser lembrada como valiosa — ou o contrário. Essa distinção ajuda a entender por que nossas decisões nem sempre buscam o que realmente nos faz bem.

Essas ideias têm implicações profundas: mostram que perseguir o prazer imediato pode não levar à satisfação duradoura, e que a memória do que vivemos pode pesar mais nas nossas escolhas futuras do que o que realmente sentimos na hora.

5. Prazer é o mesmo que felicidade?

Embora as palavras “prazer” e “felicidade” muitas vezes sejam usadas como sinônimos, elas representam coisas diferentes. O prazer costuma estar ligado a experiências breves, sensoriais ou imediatas — como saborear uma comida, ouvir uma música ou receber um elogio. Já a felicidade, no sentido mais duradouro, envolve uma sensação mais ampla de bem-estar, satisfação com a vida e propósito.

O psicólogo Martin Seligman, professor da Universidade da Pensilvânia e um dos fundadores da psicologia positiva, propôs em seu livro Flourish (2011) que a felicidade verdadeira não se resume a momentos agradáveis. Segundo ele, uma vida plena precisa reunir cinco elementos, reunidos no modelo PERMA: Positive emotions (emoções positivas), Engagement (engajamento), Relationships (relacionamentos), Meaning (propósito) e Accomplishment (realização).

Essa proposta destaca que o bem-estar duradouro está mais ligado a como vivemos e nos conectamos com o mundo do que aos estímulos momentâneos. Ter um propósito claro, relações significativas e sentir-se realizado são fatores que, segundo Seligman, sustentam a verdadeira felicidade.

Com isso, a psicologia contemporânea reforça a diferença entre prazer e felicidade: o primeiro é passageiro e reativo, enquanto o segundo é construído ao longo do tempo, a partir de escolhas, vínculos e atitudes consistentes. Buscar somente prazer pode levar à frustração, enquanto buscar sentido tende a gerar satisfação mais estável.

6. Teste de reflexão: você é hedonista (e em que grau?)

Depois de tudo que vimos, talvez a pergunta mais interessante não seja “ser ou não ser hedonista”, mas: em que medida o hedonismo influencia as suas decisões? Esta não é uma avaliação com certo ou errado, e sim um convite à autoobservação, com base nos conceitos discutidos ao longo do artigo.

Reflita sobre as perguntas a seguir:

  • Você evita desconforto a qualquer custo, mesmo que isso signifique adiar ou abandonar responsabilidades importantes?
  • Você costuma se envolver apenas em atividades que trazem prazer imediato — evitando tudo o que exige esforço ou demora?
  • Quando algo não oferece uma recompensa rápida, você perde o interesse facilmente?
  • Você sente que precisa de estímulos constantes (novidades, compras, redes sociais) para se sentir bem no dia a dia?
  • Você já percebeu que conquistou algo desejado, mas a sensação de satisfação passou rápido?

Essas perguntas não servem para rotular, mas para abrir espaço para reflexão. Em diferentes momentos da vida, é natural que busquemos prazer e evitemos dor. O ponto é observar quando isso se torna um padrão automático — e se está nos afastando de experiências mais profundas, significativas ou duradouras.

7. Conclusão: viver com prazer, mas com consciência

Ao longo deste artigo, vimos que o hedonismo é mais do que um rótulo ou uma busca desenfreada por prazer. Trata-se de uma tendência natural da mente humana — presente na filosofia, na psicologia e até na neurociência — de buscar aquilo que agrada e evitar o que incomoda. Essa inclinação, por si só, não é um erro. Mas, quando vivida de forma automática, pode nos levar a escolhas que geram frustração, dependência ou vazio.

Filosofias como a de Epicuro já apontavam que o prazer mais verdadeiro não está no excesso, mas na tranquilidade. Freud nos lembrou que o prazer precisa ser negociado com a realidade. A neurociência mostrou que nosso cérebro se ativa mais pela expectativa do prazer do que pelo prazer em si. E a psicologia positiva revelou que felicidade duradoura se constrói com propósito, vínculos e realização — não apenas com estímulos agradáveis.

Viver bem, portanto, não é rejeitar o prazer, mas saber onde ele cabe. É reconhecer o valor das pequenas alegrias, sem se tornar refém delas. É equilibrar prazer, sentido e limites — com consciência do que nos move e do que nos sustenta.

Se ao terminar esta leitura você se percebeu mais atento às suas escolhas, aos seus impulsos e aos seus padrões, o artigo já cumpriu seu papel. O hedonismo está em todos nós. A diferença está em como escolhemos lidar com ele.

Referências

As ideias desenvolvidas ao longo do texto foram inspiradas e fundamentadas nas seguintes obras e autores:

  • Arístipo de Cirene — Registrado por Diógenes Laércio em Vidas e Doutrinas dos Filósofos Ilustres (séc. III d.C.).
  • Epicuro — Carta a Meneceu e Máximas Principais (c. 300 a.C.), preservadas por Diógenes Laércio no Livro X de Vidas e Doutrinas dos Filósofos Ilustres (séc. III d.C.).
  • Jeremy Bentham — An Introduction to the Principles of Morals and Legislation (1789).
  • John Stuart Mill — Utilitarianism (1861).
  • Sigmund Freud — Além do Princípio do Prazer (1920).
  • Viktor Frankl — Em Busca de Sentido (1946).
  • Joseph Butler — Fifteen Sermons Preached at the Rolls Chapel (1726). Sem tradução oficial em português.
  • B. F. Skinner — Science and Human Behavior (1953).
  • Wolfram Schultz — Artigo sobre dopamina e recompensa no Journal of Neuroscience (2015).
  • Nora Volkow — The Addicted Human Brain, publicado na revista Scientific American (2003).
  • Kringelbach & Berridge — Pleasure Systems in the Brain, artigo na revista Neuron (2009).
  • Daniel Kahneman — Thinking, Fast and Slow (2011).
  • Martin Seligman — Flourish (2011), onde apresenta o modelo PERMA.


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